Bipolaridade no mundo das finanças

Duelo mitológico entre Apolo e Dionísio

Segundo o filósofo alemão Nietzsche, a realidade é composta pelo conflito, por misturas, complexidades e pela turbulência entre a ordem e a desordem.

Não poderia melhor contextualizar com o nosso mundo atual dos investimentos, onde investidores ganham e perdem no mesmo instante, influenciadores de criptoativos, milionários de instagrams, profetas do passado, “piramideiros”, dentre outros.

Ainda com Nietzche, ele recupera da mitologia grega Apolo e Dionísio, duas figuras opostas e ambivalentes. Apolo representa o lado luminoso da existência, o impulso para gerar as formas puras, a majestade dos traços, a precisão das linhas e limites, a nobreza das figuras, a nossa razão (fazendo um paralelo com prêmio nobel de economia Daniel Kahneman, na parte consciente do nosso cérebro, onde raramente paramos pra decidir). Dionísio, por sua vez, simboliza o fundo tenebroso e informe, a desmedida, a destruição de toda a figura determinada e a transgressão de todos os limites, o êxtase da embriaguez, a nossa emoção desenfreada e de curto prazo. A tragédia grega é a síntese dessas forças antagônicas. Sem destruição, não há criação, sem trevas, não há luz, sem barbárie, não há beleza nem cultura. O curioso é que não dá pra pensarmos em apenas um desses personagens na nossa vida. Temos que conviver com ambos e tirar alguma conclusão disso.

“Skin in the game”ou arriscar sua própria pele (tradução livre do inglês) é muito importante para a maturidade de um investidor, onde este aprende a errar e a sentir as oscilações do mercado. A renda variável incrivelmente muda a todo tempo (a nossa mente não está naturalmente adaptada a tanta mudança no curto prazo). Assim como uma excelente safra de vinho que fica ainda mais valiosa com o passar dos anos e sobrevive às intempéries do tempo, somos nós, homosapiens, encarando novos tipos de aplicações e mercados financeiros, sobrevindo a pandemias e ciclos de baixa. As cicatrizes que sofremos nesses momentos de tensão são infinitamente mais valiosas do que um curso de daytrader ou leituras resumidas e rápidas nas redes sociais, por exemplo.

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É essencial termos a consciência de que não sabemos de muita coisa, já diria Howard Marks, bilionário americano. Investir nos mercados é tentar adivinhar o futuro e o futuro é imprevisível. Logo, nós nos debatemos e nos sacrificamos para encontrar uma resposta que não está pronta no presente, mas que será respondida com base na probabilidade de um cenário, dentre vários outros possíveis, que se concretizará.

Na prática, você, investidor, que quer se arriscar mais e não tolera risco, tente iniciar com a busca de mais conhecimento e começar com pouco na renda variável e sentir as oscilações. Nunca se expor demais em determinado ativo! Leia muito sobre as empresas. Caso não tenha tempo, pode delegar pra alguém capacitado que possa agregar mais valor e te explicar a dinâmica de cada ativo. Pra tudo tem um começo.

Em resumo, desconfie de seus pensamentos a todo momento e pare pra refletir se você tem sua própria opinião sobre determinado ativo ou se foi guiado por outros. Não aceite ser da geração mi mi mi (ou me me me, do inglês, onde você é mimado e os centros das atenções). Descubra o real motivo da sua decisão, e se foi confrontada com outros cenários adversos, assim como Apolo e Dionísio.

 

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