Inflação no “novo normal”?

Inflação fica em 0,24% em agosto, maior taxa para o mês desde 2016, aponta IBGE | Economia | G1

Os índices de inflação têm registrado uma alta de preços moderada nos últimos meses (IPCA em 0,24% em ago/20). O IPCA, considerando o acumulado de 2020, evidencia um processo inflacionário acumulado de 0,46%; enquanto o IGP-DI configura uma alta de 1,58%(até Agosto deste ano).

Na verdade, os consumidores não conseguem assimilar o comportamento controlado da inflação, notadamente no preço dos alimentos. Houve um flagrante avanço de preços dos citados bens( arroz, feijão preto, leite e por aí vai) na pandemia, com variações de até 57,41%(dados do IPC-DI/2020).

Nesse ínterim, ocorreu uma redução de gastos que as famílias tinham com serviços( hotéis, viagens etc) e o incremento no que concerne à compra de alimentos e produtos eletrônicos (maior demanda/preços mais altos). Diante dessas circunstâncias, podemos observar um descompasso entre os índices oficiais de inflação e a realidade/percepção dos consumidores que adquirem alimentos muito mais caros do que há um ano, cerca de 10,1% de crescimento – em média.

O IPCA, a inflação oficial do país, apoia-se na cesta de consumo das famílias de 2017/2018 (as atualizações acontecem a cada cinco a dez anos). E o índice apurado, nessas condições, continua como referência para o cálculo do aumento de preços durante a pandemia. Existe uma defasagem, portanto, nesses indicadores( desarmonia entre a teoria e a prática).

Na realidade, os alimentos comprados nos supermercados passaram a ter maior demanda e não representam mais o peso de 13,5% considerado no IPCA de Julho 2020, praticamente o mesmo que o divulgado em Fevereiro deste ano: 14,1%, antes da pandemia. É factível admitir que estamos consumindo, dentro do nosso orçamento mensal, muito mais que 14% do total em alimentos.

Podemos, então, inferir que a composição da cesta básica utilizada como fonte de informação dos índices inflacionários não está compatível com o tempo atual e não levou em consideração a pandemia que nos assola.

 

Nelson Santiago Filho

Economista e sócio da Virtus Consultoria

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